domingo, 27 de fevereiro de 2011

AUSÊNCIA

Na ausência nos deparamos com a falta, com o vazio. E há tantas formas de ausência....
A ausência que se faz presente na indiferença, na omissão, no abandono, na falta de cuidado para com o outro, nos relacionamentos rompidos, na partida, no deixar de ser si mesmo para ser o que os outros querem, nos simples gestos de afetos esperados e não recebidos, na falta de apoio e de um abraço amigo...
Mas não é sobre estas ausências que desejo compartilhar. Quero falar sobre as ausências que incapacitam o ser humano de seguir adiante, que o faz caminhante errante, alheio ao próprio destino. Ausências que impedem a auto realização.
A ausência que se faz presente na dor da morte, na perda irreversível de amigos e entes queridos, no vazio deixado em nossas vidas por aqueles que se vão e não voltam mais. Aqueles que partem, mesmo sem querer partir, deixando a saudade e a lembrança dos momentos vividos, deixando um lugar vazio que jamais será preenchido.
A ausência da modernidade que se faz presente, mesmo quando juntos, num mesmo espaço, cada um fica na sua, diante de uma TV ou de um computador e já não se conversam mais, no diálogo que vai dando lugar ao silêncio não compartilhado, não compreendido, sem sentido, na palavra não dita e não ouvida, onde se convive com o outro, mas sem nenhuma sintonia. Quando nos desconectamos do próximo, e o tornamos distante, para criarmos comodamente apenas elos virtuais.
A ausência que se faz presente na entrega às drogas, quando a mente, de tão ligada, fica entorpecida e não comanda mais o pensar, o querer, o agir e o sentir. A única busca é para encontrar o alívio para a sua compulsão, para o desejo incontrolável, para a fome insaciável do corpo e da alma. A busca incessante de paz sem conseguir encontrar. Viver intensamente toda uma vida em segundos. Alçar voo para a liberdade e ver-se sempre cativo, preso à armadilha do vicio. Cocaina, crack, extasi, maconha, heroina, alcool...não importa qual tipo de droga é usada. O dependente vive ausente da própria vida.
A ausência que se faz presente na depressão que se traduz no abandono do outro e de si mesmo, no viver a deriva, não desejar, não querer estar, não querer ser. Quando a vida pesa e cansa, é fardo impossível de carregar, quando falta o riso, quando a dor torna-se insuportável e já não há mais o que chorar. Quando qualquer projeto de vida torna-se irrealizável e não há vontade de prosseguir. O corpo quer ficar à margem, a beira do caminho. E não importam as flores, já não há mais cores para colorir a vida. Na depressão vive-se ausente, é um viver sem querer a vida.
A ausência que se faz presente na perda da memória que é o ausentar-se de si mesmo, do outro e da vida, das lembranças, da perda da trajetória, da própria história. É um mergulhar no vazio, no qual os outros, antes tão próximos, vão ficando cada vez mais desconhecidos, quando pouco a pouco vai se perdendo do espaço, do tempo e o aqui e agora se desfaz, já não tem mais sentido. É a ausência de não saber-se mais, de perder-se de si mesmo, num mundo ao qual não se tem acesso. É um estar ausente que vai lentamente, criando momentos cada vez mais marcados pelo embotamento, pelo apagamento. De inicio a ausência se traduz nos pequenos esquecimentos, depois o perder-se no tempo, o distanciamento do outro, de não saber-se mais e por fim o despedir-se da vida em vida. É estar presente e não estar em tempo algum. É não ser!
Há, ainda, a ausência existente em outras loucuras, que leva o ser humano a viver personagens imaginários ou a sair sem destino, no contra mão da vida, errantes pelas estradas, eternos caminhante,s sem ponto de partida ou chegada, quando se ultrapassa a fronteira entre a realidade e a fantasia, perda da unidade da personalidade, desligamento da realidade exterior. Caminha... apenas caminha, sem saber para onde quer ir, sem direção, rumo a um horizonte perdido que jamais encontrará.

Um comentário:

  1. Que filosófico seu texto! Em cada paragráfo lido me senti parte dele. Parabéns Cris!

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