domingo, 27 de fevereiro de 2011

CISNE NEGRO



Um filme imperdível de Darren Aronofsky que traz a luta de uma jovem bailarina para alcançar a perfeição e obter o papel principal de O Lago do Cisne. Mas, para fazer juz ao papel precisava vencer uma batalha interior: incorporar o seu lado sombra à sua personalidade, pois o Cisne Branco ela representava com perfeição, mas não conseguia obter a mesma perfomance representando o Cisne Negro (metáfora da sombra), pois não conseguia dar-lhe vida, uma vez que o reprimia como parte integrante de si mesmo. Reprimida pela mãe dominadora e possessiva, cujo desejo é o de realizar-se através da filha, agride o seu próprio corpo compulsivamente.
O prof. tenta ajudá-la a colocar vida, sedução, força e paixão em sua perfeição técnica.
"A perfeição não está só no controle. Está também em se deixar levar...transcender", seu inimigo está dentro de você mesma" ele lhe diz.
O filme pode contribuir com o processo de auto conhecimento para aqueles que desejarem refletir sobre a sua própria sombra. Segundo o psiquiatra Carl Gustav Jung, todos nós temos uma sombra, um lado obscuro que carregamos conosco advindo dos instintos primitivos dos nossos ancestrais. A tensão dentro de nós de forças antagônicas, o fato de sermos luz e sombra, é constitutiva do nosso ser e não podemos anular. No entanto, a sociedade em que vivemos nos obriga a vivermos um ideal de perfeição que procura eliminar o "negativo". O EU passa a lutar para que o lado considerado bom e perfeito (luz) prevaleça, tentando ignorar e anular a sombra.
O desejo de identificação com os padrões de conduta aceitos pela sociedade faz com que ocorra um fortalecimento da "persona", a máscara que usamos, o que não somos realmente, mas que pretendemos que os outros acreditem que somos. Dessa forma, corremos o risco de adotarmos uma personalidade artificial, sem assumirmos o nosso real caráter.
O encontro consigo mesmo causa dor e por isso ocorre rejeição e projeção. O que não aceitamos em nós, que julgamos ser o mal é projetado fora de nós mesmos, no outro que passa a ser vítima expiatória.
O conhecimento, a aceitação de nossa sombra, dos nossos antagonismos e contradições é primordial para o processo de individuação, para o alcance do SELF (a totalidade) ou Si Mesmo. O Self é resultante do processo de integração da personalidade em uma unidade e do proprio processo de diferenciação que nos possibilita nos tornarmos quem realmente somos.
A bailarina, no filme, vê o seu lado sombra projetado em outra bailarina a quem vê como uma inimiga que quer ocupar o seu lugar, destitui-la do papel principal. Onde reina o cisne branco perfeito, obediente, servil, livre das fortes emoções, do descontrole da paixão, não há lugar para o cisne negro.
Não obtendo a integração a bailarina não vê outra saida que não seja a morte do Cisne Branco para que o Cisne Negro possa emergir com toda a sua força e ocupar espaço em sua vida.
O cisne branco e o cisne negro representam o impasse entre a luz e a sombra. Uma luta que é travada em nosso interior que pode ter como resultado a integração, a plenitude, o ser SI Mesmo através da ajuda terapêutica.
Somos luz e sombra. Quando não aceitamos o nosso lado sombra, quando o negamos como parte integrante do nosso eu, o ignoramos e o vemos fora de nós ele pode se revelar através das neuroses, depressões, das atitudes incompreensíveis e auto destrutivas.
A Arteterapia pode contribuir de forma significativa com o nosso processo de auto descoberta, assim como outras formas de terapia.
Não deixe de ver o filme, que é maravilhoso e aproveite para refletir sobre a importância da integração entre o nosso lado sombra e o nosso lado luz!

Um comentário:

  1. Parabéns pela crítica positiva, tb. adorei o filme. Acho um absurdo críticos da Folha de Sp, como Ignácio Araujo, dizer que o filme é "um mostrengo". Já entrei em fria indo atrás de sugestões desta cricrítico.
    Acho que o filme explicita a dualidade que todos nós trazemos, que se bem dosada pode ser complentarmente positivas. Mas a nossa sociedade de origens e valores judaícos separa as pessoas em boas e más, enquanto o orientalismo nos ensina o lance dos opostos complementares. Enfim, não há bondade 100% fora de Deus e suas divindades, mesmo anjos são tentados...

    ResponderExcluir